Entrevista: Estevão Urbano fala sobre 1 ano de combate à COVID-19 em BH 1d4827
'O Kalil é um sujeito que sofre com cada morte', diz médico infectologista, revelando os bastidores e desafios do Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus da PBH 56242n
(foto: Arte sobre foto de Leandro Couri/EM/D.A Press)
Um protagonismo inesperado que revela ainda mais humildade. O médico infectologista Estevão Urbano é um dos quatro integrantes do Comitê de Enfrentamento à Pandemia de COVID-19, que completa um ano em Belo Horizonte nesta semana.
Nesta série de entrevistas com os médicos que fazem parte do time de orientação ao prefeito Alexandre Kalil (PSD), Estevão revela as angústias com as decisões que impactam a vida de milhares de belo-horizontinos, confidencia os bastidores da postura de Kalil e conta se pretende aceitar as propostas de integrar a carreira política.
Além de mentor na prefeitura, Estevão é presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia, coordenador dos serviços de infectologia dos hospitais Madre Teresa, Biocor Instituto e Vila da Serra, infectologista do Hospital Júlia Kubitschek e professor emérito da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.
A dificuldade, muitas vezes imposta pelo não acatamento das decisões, tira o sono e preocupa o especialista, que se diz atento a ouvir todos os lados e ser norteado pela biomedicina.
“É assim que eu me comporto, tentando ser humilde o suficiente para entender que quem assume essa posição, esse protagonismo não solicitado mas que nos foi incubido, tem que estar bem preparado para ouvir críticas, para assumir os ônus do processo e não trazer isso de forma desrespeitosa, autoritária. Quem está na chuva é pra se molhar”, afirma.
Confira a entrevista completa 5hb2s
O que Belo Horizonte aprendeu em um ano de pandemia?
A grande maioria das pessoas, de forma empírica contabilizo sendo cerca de 70% a 80% das pessoas, aprendeu que o vírus é cruel, que a pandemia é uma situação perversa, tudo e todos sofrem.
Essas pessoas aprenderam que a pandemia é uma aula de cidadania, de compartilhamento, de como viver a vida em coletividade. Um dos legados desse ano de pandemia foi aprender na prática aquilo que apenas sabíamos de livros, na teoria, que é a necessidade de, ao enfrentarmos uma guerra e o inimigo, sermos uma cidade e não um indivíduo, sermos uma coletividade e não um ser individual.
Agora, existem 20 a 25% das pessoas que até hoje não conseguem entender o sinônimo da palavra empatia, colaboração, compartilhamento. Essas pessoas possivelmente não aprenderão mais, porque depois de tanto sofrimento, de tanta mudança em todos os setores e de tantos óbitos, se não aprenderam, não vão aprender mais.
Como você recebeu o convite para integrar o comitê da prefeitura e como foi o início dos trabalhos?
Foram 12 horas para o comitê ser montado e 24 horas para começarmos a tomar as medidas. E de lá para cá muita coisa aconteceu, mas o início foi assim.
Por que aceitar esse convite?
Quando você escolhe uma profissão, quando ama essa profissão, você tem objetivos pessoais e objetivos coletivos. Depois de 30 anos de exercício da medicina, agregando experiência e conhecimento, seria impensável, para cada um de nós, falar ‘não’. Porque seria falar ‘não’ ao nosso ideal sonhado desde a formatura, de contribuir de alguma forma enquanto cidadãos para melhorar a vida das pessoas.
Você já chegou a pensar em desistir de contribuir com o comitê?
Nunca houve qualquer movimento que pudesse pensar em abandono do comitê, em desistir do trabalho. Óbvio que todos nós nos cansamos muito, porque todos nos cansamos na pandemia. Houve vários buracos e pedras no meio do caminho, mas alguém imaginaria que enfrentar uma pandemia seria flores? Nunca houve isso. Nunca haveria e nunca haverá.
"Alguém imaginaria que enfrentar uma pandemia seria flores?" 541s5h
Estevão Urbano, médico infectologista 2p1j6n
Pandemia é um momento único na história da humanidade, então, sabendo de que este caminho seria muito difícil, já estávamos preparados para enfrentar o cansaço, as pressões, e etc. E quando isso aconteceu, em vários momentos, nunca houve qualquer movimento de falar ‘tá na hora de sair’ porque o vírus não cansou. As pessoas não deixaram de precisar. Então, não cabia a nós pensar em desistir. Isso é absolutamente verdadeiro, transparente, falando do fundo do coração.
Como é a relação do prefeito Alexandre Kalil (PSD) com os integrantes do comitê? Ele se reúne com vocês?
Primeiro, acolhedora. O prefeito nos acolheu e nos protegeu. As decisões que sugerimos, ele toma e assume como sendo uma decisão do prefeito. Segundo, ele nos ensinou.
"O Kalil é um sujeito que sofre com cada morte. Ele perde as noites, enche os olhos de lágrimas quando conversa sobre isso nos bastidores conosco" 39262d
Estevão Urbano, médico infectologista 2p1j6n
O Kalil é um sujeito que sofre com cada morte. Ele perde as noites, enche os olhos de lágrimas quando conversa sobre isso nos bastidores conosco. Ele nos ensinou muito como ser um político com acertos e erros, mas que pode se preocupar e se envolver afetivamente com a população, o que não é tão comum entre os políticos.
Outra coisa, ele sempre foi extremamente direto e transparente. Da mesma forma que coloca suas posições, ele ouve com muita atenção e acolhe tudo o que o comitê sugere. Ele argumenta, contra-argumenta, no final as decisões são sempre dele, mas nunca houve uma mente fechada com opiniões preconcebidas.
O Kalil não trouxe uma desonestidade intelectual, que é ‘eu já tenho uma opinião preconcebida sobre tudo e o que eles falarem vai entrar por um ouvido e sair pelo outro porque eu quero que se cumpra aquilo que eu penso’. Não. Ele vem com a mente aberta e ouve todos os aspectos para depois formar uma opinião e tomar uma posição.
Isso quer dizer que o comitê tem realmente participação ativa?
Ele não faz do comitê um órgão de assessor virtual, um fantoche, um comitê sem voz. O comitê tem uma independência e uma influência nas decisões que eu poderia dizer que fiquei até surpreso pelo nível de abertura às nossas argumentações, a argumentação da ciência, para a tomada das suas decisões.
Um cara muito aberto, muito alegre e nos momentos de descontração contando histórias fantásticas. É uma pessoa de uma personalidade muito diferente, de um carisma muito grande. O Kalil ser humano também é um cara que é surpreendente, tem uma cultura geral muito grande, lê muito, sempre tem respostas e tiradas engraçadíssimas. É muito bacana quando a gente se reúne, em todos os aspectos.
Estevão Urbano, médico infectologista e integrante do Comitê de Enfrentamento à COVID-19 da PBH (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)
O que mudou na sua vida nesse um ano de pandemia, um ano de comitê e também de exposição?
Do ponto de vista da dinâmica do dia a dia, mudou completamente. Quando você é muito exposto, a a ser uma pessoa que, dentro de um contexto que é de Belo Horizonte, a a ser reconhecida nas ruas, nos supermercados, etc. Você tem que se superar em termos de responsabilidade enquanto cidadão, tem que dar exemplo.
"Você começa a ser um cidadão melhor, porque se vai na televisão, no rádio, no jornal pedir a contribuição das pessoas, esse exemplo primeiro tem que ser o seu. Você tem que praticar melhor o exercício da cidadania" 46j5u
Estevão Urbano, médico infectologista 2p1j6n
Agora, eu sou um cara meio tímido, então às vezes fico um pouco com vergonha de sair na rua, ser reconhecido, ser abordado, para o bem ou para o mal, e já fui abordado para os dois lados. E aí você tem que aprender uma dinâmica que nunca foi sua: lidar com o público. Entramos no comitê e não sabíamos o universo onde estávamos entrando. Não era e nunca tinha sido o nosso universo, então é um grande desafio lidar com isso.
Às vezes, tenho um pouco de vergonha, quero sair para fazer uma compra, um pão, ir ao supermercado fazer compra, e às vezes prefiro não sair com medo de ser reconhecido e não saber como me comportar com a abordagem das pessoas. E com as pressões você também muda um pouco no cenário familiar. Sempre há um pouco de medo, de reações de toda a família, lidar com isso também é um grande desafio.
Como lidar com pessoas que não confiam e não concordam com o seu trabalho de especialista, de cientista e médico">
"A única dúvida é: essa variante vai driblar a vacina? Espero que não. Hoje eu não poderia dizer que sim nem que não, só que quero que não" n5q2a
Estevão Urbano, médico infectologista 2p1j6n
Se a variante não afetar muito o adoecimento das pessoas, principalmente nas formas graves, com certeza o efeito rebanho nos levará a uma nova realidade a partir do segundo semestre. É um ano que será duro, mas tem esperança ao mesmo tempo.
O comitê da prefeitura deve durar até quando?
Eu diria que o tempo que a pandemia exigir. Obviamente, tenho que incluir a frase: o tempo que o prefeito quiser, né? Depende do prefeito. Enquanto ele quiser e enquanto a pandemia exigir, tenho certeza que nenhum de nós do comitê pensaremos em sair, em abandonar o barco. Como o cenário de 2021 ainda é complexo, acredito que esse comitê dure pelo menos mais um ano.
Quem é Estevão Urbano? vz56
Estevão Urbano, médico infectologista e integrante do Comitê de Enfrentamento à COVID-19 da PBH (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A. Pess)
IDADE: 55 anos
FORMAÇÃO: Médico
ESPECIALIZAÇÃO: Infectologia
LOCAL EM QUE ESTUDOU: Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais
OUTRAS ATUAÇÕES: Sociedade Mineira e Brasileira de Infectologia, coordenador dos serviços de infectologia dos hospitais Madre Teresa, Biocor Instituto e Vila da Serra, infectologista do Hospital Júlia Kubitschek, professor emérito da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais
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