QUEDA DE AVIÃO EM BH

BH: Piloto de avião que caiu em 3 casas estava inapto para voar, diz laudo

Cenipa afirmou que piloto não poderia estar à frente de uma aeronave por possuir condições médicas contrárias às normas da aviação. Acidente aconteceu em 2023

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O Centro de Investigação e Prevenção de Acidente Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea Brasileira (FAB), concluiu o laudo que apurou os fatores que resultaram na queda de um avião monomotor sobre três casas no Bairro Jardim Montanhês, próximo ao Aeroporto Carlos Prates, Região Noroeste de Belo Horizonte, em março de 2023. Dois anos depois, os investigadores apontaram que o piloto José Luiz de Oliveira Filho, de 65 anos, que morreu na época, não poderia estar operando a aeronave. Além dele, Jéssica Oliveira, filha de José, ficou gravemente ferida.

Na época, pai e filha saíram de Abaeté, na Região Central de Minas Gerais, onde a família tem uma fazenda, com destino à capital mineira. As investigações mostraram que, apesar do registro digital do piloto apresentar apenas 254 horas de voo, dados obtidos pela Comissão de Investigação indicaram que José acumulava 23 anos de experiência e estava acostumado com o trajeto e a realizar pousos do Aeroporto Carlos Prates, no Bairro Padre Eustáquio. 

Porém, conforme o documento finalizado em maio deste ano, o piloto, desde criança, tinha históricos de crises convulsivas e, em 2022, ano anterior ao acidente, foi diagnosticado com epilepsia. Apesar de ter aderido ao tratamento da doença, os especialistas do Cenipa apontam que pessoas que possuem esse histórico médico não estão aptas a voar. 

Além disso, apesar do quadro médico, a Comissão de Investigação não encontrou registros de que a comorbidade havia sido informada nos exames de renovação do Certificado Médico Aeronáutico (CMA), que estava válido.

Outro ponto apresentado pelos agentes é que José deveria usar lentes ou óculos durante os voos. De acordo com o laudo, as buscas no local do acidente e o exame de necropsia não indicam presença dos materiais de correção da visão. 

“Como profissional da medicina e sabedor das suas restrições, o piloto deveria ter deixado de exercer suas prerrogativas como PIC, conforme preconizava o Regulamento Brasileiro de Aviação Civil. Além disso, o laudo pericial realizado e a análise dos destroços não identificaram a presença de lentes corretoras ou óculos, que deveriam ser utilizados conforme especificado em seu CMA. A ausência desses itens pode ter acarretado dificuldades de leitura dos instrumentos de voo, bem como a avaliação das referências visuais utilizadas, especialmente durante o pouso”, constata o documento. 

Fala arrastada

Ao longo das investigações, o Cenipa conversou com pessoas que já teriam voado com a vítima. Segundo os relatos, José Luiz, embora tivesse a experiência necessária, nunca se habilitou para atuar como piloto comercial ou instrutor de voo. Além disso, até 2018, o médico convidava pilotos recém-formados ou com pouca experiência para acompanhá-lo a bordo. 

No entanto, a rotina mudou depois que o aviador ou mal durante um dos voos. Desde então, familiares aram a exigir que ele sempre estivesse acompanhado de pilotos profissionais, que aram a ocupar o comando da aeronave. A regra só era quebrada quando a vítima voava com sua filha, para incentivá-la.

“Nesse sentido, o PIC (Piloto em Comando) não considerava solicitar a participação de pilotos profissionais [...] De acordo com os relatos, ela cumpria a função de Piloto Segundo em Comando (SIC) em uma eventual necessidade”, aponta o laudo do Cenipa. 

Os investigadores também analisaram áudios registrados entre o operador da estação de rádio do Aeroporto Carlos Prates e José Luiz. As gravações sugerem que o piloto estava excessivamente calmo, inclusive com alguma letargia, “dando a impressão de fala arrastada, o que pode indicar algum comprometimento cognitivo”. 

“O estado emocional pode ter impactado na segurança de voo, afetando a capacidade de concentração e o julgamento do PIC, aumentando a propensão a falhas no processo decisório. Um piloto sob tais influências pode apresentar sinais de distração, ansiedade ou letargia, interferindo em suas funções críticas. A carga emocional pode resultar em lapsos de memória e na incapacidade de seguir procedimentos estabelecidos, levando-o a encurtar ou pular etapas essenciais nos processos de verificação e operação da aeronave. Isso pode ter comprometido seu desempenho na pilotagem da aeronave, agravado pelo uso de medicamentos, acarretando também a degradação de mecanismos cognitivos”, argumenta o investigador responsável. 

Pouso tardio 

Imagens de câmera de segurança, analisadas pelo Centro de Investigação, mostraram que a aeronave que caiu sobre três casas no Bairro Jardim Montanhês, estava com o trem de pouso - equipamento usado para decolagem e aterrissagem - abaixado. Além disso, o Cenipa concluiu que o aviador tentou fazer uma primeira tentativa de pouso, antes do acidente. 

Ao não conseguir, a aeronave arremeteu no solo e fez uma curva voltando a tentar novamente a aterrissagem dois minutos depois. A gravação aponta que a aeronave tocou o solo a 180 metros da cabeceira, ou seja, bem próximo ao fim da pista. 

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“A fala arrastada e a calma excessiva em momentos críticos, como o toque a 180 metros da cabeceira oposta ao pouso, podem indicar algum comprometimento neurológico, tendo como efeito o esquecimento da extensão do trem de pouso durante a segunda tentativa de pouso. A não realização de um procedimento de arremetida, ao efetuar o pouso excessivamente longo, a poucos metros da cabeceira oposta, apontou não somente uma falha no processo decisório, mas também na atenção, com redução da possibilidade de uma resposta adequada e disfunção no sistema de alerta”.

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