UFMG adota vestibular seriado a partir de dezembro de 2025
Nova forma de ingresso permitirá provas anuais ao longo do ensino médio e estreia com 30% das vagas de graduação em 2028
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Siga noA Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) começa a implementar ainda neste ano nova forma de ingresso na instituição: o Processo Seletivo de Avaliação Seriada (PSAS). A novidade já foi aprovada em versão preliminar e permitirá que estudantes façam três provas durante três anos, correspondentes a cada série do ensino médio. A partir de 2028, 30% das vagas de cada curso de graduação da UFMG serão preenchidas por meio do novo modelo.
A decisão foi oficializada em 8 de maio, quando a Câmara de Graduação aprovou o formato inicial do vestibular seriado. A primeira etapa será em 14 de dezembro. O PSAS segue as diretrizes do Documento Norteador do Seriado UFMG, que será apresentado aos professores da Educação Básica durante a mostra Sua UFMG, em 24 de maio. Poderão participar alunos de qualquer série do ensino médio, estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e pessoas que já concluíram a graduação, independentemente do tempo decorrido desde a formatura.
O PSAS não substitui outras formas de ingresso, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e o processo de Habilidades Específicas, exigido em cursos como artes e música. O estudante poderá participar de mais de um processo seletivo ao mesmo tempo.
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A UFMG é a sexta universidade de Minas Gerais a adotar o vestibular seriado, juntando-se às federais de Viçosa (UFV), Lavras (Ufla) e dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e à Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Em todo o Brasil, mais de 20 instituições utilizam o modelo, criado originalmente pela Universidade de Brasília (UnB), em 1995.
A reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida, explica que a adoção do vestibular seriado é resultado de um processo cuidadoso, construído de forma coletiva e baseado em amplo debate. Segundo ela, a decisão do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) e do Conselho Universitário foi guiada pela ideia de que diversificar as formas de ingresso contribui para ampliar a inclusão: “Nós queremos cada vez mais incluir as pessoas”.
Ela destaca que o Enem e o Sisu continuarão a existir: “É uma alternativa para as pessoas que queiram entrar na universidade pública de uma outra forma e o nosso objetivo é justamente aproximar a universidade da escola pública”. De acordo com Sandra, o processo seletivo está sendo construído com muitas mãos: estudantes e professores foram e estão sendo ouvidos.
Como vai funcionar o PSAS
O processo é composto por três etapas, e os estudantes podem iniciar em qualquer série do ensino médio. A primeira prova será baseada nos conteúdos do primeiro ano, e o participante decide em qual momento deseja começar o ciclo. A cada ano, o estudante faz uma nova prova com conteúdos correspondentes à série seguinte. Após a terceira etapa, ele recebe a classificação final e escolhe o curso de graduação.
A lógica do vestibular seriado prevê que, anualmente, todas as três etapas aconteçam simultaneamente, com candidatos de ciclos diferentes. Em 2026, por exemplo, ocorrerão as provas do primeiro e segundo anos; já em 2027, todas as três etapas serão aplicadas. O conteúdo das avaliações será elaborado por docentes da UFMG, em conformidade com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e ao Currículo Referência de Minas Gerais (CRMG), cobrando competências das áreas de Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
Entre as obras que serão cobradas na primeira prova, marcada para dezembro deste ano, estão o romance “Memórias de Martha”, de Júlia Lopes de Almeida (1862–1934), a canção “Principia”, do rapper Emicida, e o conjunto de autorretratos “Pão e Circo”, do artista Paulo Nazareth.
O que dizem os estudantes do Ensino Médio
Para Giovana Santos, estudante do segundo ano do ensino médio no Cefet-MG, o processo seletivo seriado surge como uma proposta interessante, especialmente por aliviar a pressão concentrada no Enem. “Assim que a gente entra no ensino médio a pressão para estudar para o Enem já vem junto, e conseguir dilui-la um pouco ao longo dos três anos soa bem reconfortante”, afirma. Giovana ressalta que é pesado fazer uma única prova que resume todo o conteúdo aprendido em 12 anos e que a última série do ensino médio acaba sendo marcada pelo medo e pela ansiedade.
Ela, no entanto, alerta para a necessidade de que o ensino público acompanhe essa mudança. “No ano ado, por exemplo, eu ei mais de seis meses sem um professor de redação e praticamente quatro meses de greve, sem aula nenhuma”, relata. Para Giovana, situações como essa comprometem ainda mais o aprendizado e, no caso do vestibular seriado, poderiam ser especialmente prejudiciais. “Aí se tornaria um motivo de desespero pra nós estudantes, e teríamos que correr ainda mais contra o tempo para buscar esses conteúdos que ficaram defasados”, completa.
Emanuelly da Silva Duarte, estudante do segundo ano do ensino médio do Colégio Santo Agostinho, também vê com bons olhos o novo modelo de seleção. Para ela, o vestibular seriado permite que os alunos aprofundem os conteúdos estudados em cada série, sem a necessidade de avançar rapidamente ou superficialmente sobre os temas. “Acho que torna os estudos mais tranquilos e permite com que o nível de aprofundamento das questões seja maior”, explica. Emanuelly ainda destaca que o PSAS oferece uma nova possibilidade de avaliação, o que amplia as chances dos estudantes: “traz mais uma alternativa de avaliação, diferente do Enem”.
Já Isadora Dutra Guimarães, do Colégio São Judas Tadeu, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, considera interessante a proposta da UFMG. Ela acredita que o novo modelo pode ser melhor do que o Enem, justamente por permitir uma preparação mais gradual. “O Enem deixa tudo pro final, e assim a gente pode ir se preparando aos poucos”, afirma. Isadora também vê com bons olhos o fato de que 30% das vagas da universidade serão destinadas ao novo processo. Ainda assim, por ser uma novidade, ela revela certo receio: “Eu me sinto um pouquinho com o pé atrás, mas conheço pessoas que falam muito bem e que vão fazer. Ainda estou pensando se vou participar.”
Primeiras impressões
A estudante Ana Clara Santos, do quinto período de Letras, vê com entusiasmo a chegada do vestibular seriado. Para ela, a proposta representa um avanço tanto no plano individual quanto coletivo, por ampliar as possibilidades de ingresso sem excluir o Enem. “Mais pessoas poderão ser contempladas”, afirma. Ela também destaca que o novo modelo pode reduzir a pressão vivida por estudantes durante o ensino médio, permitindo uma preparação mais equilibrada ao longo dos anos.
Além de estudante, Ana também é professora particular. Nesse papel, vê o PSAS como uma oportunidade de transformação. Ela já começou a apresentar o novo vestibular aos seus alunos, incentivando o preparo desde o primeiro ano. Para ela, o contato gradual com a universidade, por meio de provas anuais e de iniciativas como a Mostra Sua UFMG, contribui para escolhas mais conscientes e reduz a ansiedade na hora de decidir o futuro. “É uma forma menos estressante de entrar na faculdade”, conclui.
A professora de Farmácia e Nutrição da UFMG, Maria Aparecida Vieira Teixeira Garcia, também cita a diminuição da ansiedade dos estudantes como resultado positivo. “Com essa possibilidade, dessas três provas distribuídas ao longo do tempo, pode haver redução de ansiedade. Muitos alunos sentem menos estresse em relação ao Enem, por exemplo, que acontece em dois dias”, explica.
A professora destaca ainda que com o objetivo de ir bem nas provas, o aluno “precisa manter um bom rendimento nos estudos durante todo seu ensino médio”. Dessa forma, eles ficam mais “focados”.
Ellen Fabiane Canabrava Ribeiro está no sexto período de Jornalismo. Ela também compara o Seletivo com o Enem. “Considerando que o Enem é uma prova muito cansativa e tem toda a pressão de ir muito bem, porque é a prova que vai garantir ou não nossa vaga na faculdade. Acredito que a avaliação seriada seja uma boa alternativa, porque vai dar mais oportunidade para as pessoas. Se a pessoa não foi boa no primeiro ano, ela pode vir (para a universidade) no segundo ou terceiro”, reflete.
Mas a estudante questiona alguns tópicos, entre eles, os 30% destinados às vagas do PSAS. “Minha única questão com a avaliação seriada é: Quem que ela vai ajudar? Essa avaliação será feita em quais cidades? Vai ter uma versão online? Quem mora longe vai ter a oportunidade de fazer essa prova? Eu, por exemplo, vim do Norte de Minas para fazer faculdade aqui e eu consegui a UFMG, porque o Enem foi aplicado na minha cidade. Fora que são 30% das vagas. Isso quer dizer que os 70% que ficam, vão ficar muito mais disputados”, diz.
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*Estagiária sob a supervisão dos subeditores Rachel Botelho e Thiago Prata