Jeans feito com alma

Amarildo Ferreira se tornou uma referência no mercado do jeanswear e deixa uma lacuna no setor da moda

Publicidade
Carregando...

Se o mundo da moda está de luto com a partida de Amarildo Ferreira, a comunidade do jeanswear, em particular, lamenta profundamente a perda de um dos seus principais personagens. Talentoso, comprometido, engraçado, o estilista era também conhecido pelo seu humor ácido e inteligente e sua presença enchia qualquer sala, conforme afirmam os amigos que conviveram com ele ao longo dos anos.


Donos de fábricas, como Cláudia Rabelo e Regina Matina, colegas, como Bárbara Luiza Oliveira, Andréa Aquino, Antônio Diniz, Soninha Lessa, Victor Dzenk, conferem cores à sua personalidade, mesclando o profissional, o ser humano, o amigo que tocou suas vidas e seus corações. Todos eles, como Amarildo, fazem parte da geração “sangue azul” dos anos 1980/1990, que se reconhece no amor de fazer moda no jeans.

Inverno DTA 2017

Inverno DTA 2017

Márcio Rodrigues/divulgação

A carreira do estilista decola com a Vide Bula, marca comandada por Roberta e Giácomo Lombardi, que foi objeto de desejo de vários jovens pela sua veia rebelde e transgressora. Começou como vitrinista das lojas dos irmãos Lombardi, na Savassi; depois, autodidaticamente, ou a fazer parte da equipe de estilo da empresa. “Giácomo foi meu mestre”, costumava dizer, afirmando que aprendeu tudo que sabia com o ex-chefe.


Profissionalismo e dedicação são outras palavras que definem Amarildo, presentes nos depoimentos dos que fizeram parte da sua trajetória. “Ele era profundamente comprometido e se dedicou à Vide Bula com força e coração”, explica Soninha Lessa, que trabalhou com ele durante cinco anos na equipe de estilo. “Nós dois fazíamos os desfiles do São Paulo Fashion Week junto com o Paulo Martinez e sempre tivemos uma sintonia muito boa. Além do mais, Amarildo era muito prestativo, me ajudou muito com a minha marca atual, a Toast. Só tenho boas lembranças dele”.


O curso de arquitetura incompleto e um bom gosto nato constituíram a base para afirmar sua vocação para a estética, formas e proporções do campo da moda, como também para exercer a função de VM – Visual Merchandising, muito antes do termo adquirir o conceito que tem hoje.


“Além do senso estético para o espaço, tinha o poder de transformar coisas corriqueiras em sofisticadas. Sempre foi uma inspiração para mim pela sua criatividade e pela capacidade de transformar o masculino em produto desejável”, diz Andrea Aquino, que conviveu com o estilista, profissionalmente, em duas etapas: na DTA e, mais recentemente, na Cláudia Rabelo, na qual ele assinou coleções masculinas da segunda marca da empresa, a Civil, e se responsabilizava pelo VM das lojas, campanhas das coleções, convenções, desfiles. “Era um grande amigo também, me ajudou muito em uma época que lidava com a adolescência do meu filho e com problemas pessoais”, pontua.


O relacionamento de Antônio Diniz com o colega se estreitou, nos últimos cinco anos, por meio do lançamento da A.Criem/MG - Associação dos Criadores e Estilistas de Minas Gerais, que Amarildo ajudou a fundar e fez parte da diretoria. Seus looks masculinos potentes eram esperados nos desfiles semestrais promovidos pela entidade com objetivo de valorizar a autoralidade dos designers mineiros. Além de participar com entusiasmo, era ele quem contribuía para montar as exposições subsequentes e estava pronto para auxiliar no que fosse, pau para toda obra.


“Amarildo conhecia profundamente a matéria-prima jeans, suas criações para o masculino eram impecáveis, além de ser de uma entrega fabulosa. Ele deixa também um legado em termos de VM insubstituível”, ressalta o presidente da A.Criem, enfatizando a riqueza cultural do estilista, que amava cinema e tinha repertório para discutir qualquer assunto.


Fora da caixinha

Para Bárbara Luiza de Oliveira, Amarildo era um amigo-irmão, amizade de longa data construída na criação, no chão de fábrica, nos momentos pessoais difíceis, na afinidade. Ela foi uma das embaixadoras para trazê-lo para a equipe da DTA, quando a Vide Bula foi vendida para a Lei Básica. “Seu grau de perfeição, controle de qualidade, criatividade, me instigaram a ter um olhar atento e apurado como o dele, muito fora da caixinha. Era preciso também na direção de arte, fotografia e concepção de looks”.
A dupla atuava junta também na elaboração do set designer do showroom da DTA, criando ambientações específicas a cada temporada. “Ficava impressionada com o seu conhecimento em decoração e arquitetura. Falavam que ele era genioso, para mim ele era genial”, define.


“Nossa convivência foi muito tranquila, apesar da sua fama de polêmico”, relata Regina Matina, proprietária da DTA, que o contratou para criar as coleções masculinas, em 2009, e enfatiza o lado dedicado e disciplinado do estilista. “Ele entendia as mudanças do mercado, o que podia ser feito, o que não podia ser feito, o que dava para fazer na realidade”.


Além da convivência na fábrica, ela o levou para a vida pessoal. Era Amarildo quem organizava seus eventos, festas, aniversários, comemorações. “Fiquei pensando em como ele se tornou uma referência viva para os novos estilistas, conseguiu atravessar gerações”, pontua.


Cláudia Rabelo, dona da marca homônima, também trouxe o estilista para fora do trabalho. “Somos uma empresa familiar e ele conquistou meu pai e meus irmãos. Sempre muito envolvente, muito culto, um excelente cozinheiro, tinha “mãos de fadas” e era um talento como VM”, confirma.


Já Victor Dzenk e Amarildo se conheceram, na adolescência, em Lagoa Santa e, juntos, viveram muitas aventuras. “Ele era muito vanguardista, audacioso, e foi muito importante na escolha da minha profissão, uma verdadeira referência de estilo. Lembro-me que, antes de chegar à Vide Bula, já trabalhava como vitrinista para a Toulon e ou também pela Getúlio Calçados”, relata. A criação da A.Criem os aproximou nos últimos anos, já que ambos eram diretores da associação.


Na família, ele era carinhosamente chamado de Lildo. Alexandra Ferreira o menciona como “um irmão maravilhoso, divertido, que amava os oito sobrinhos e brincava com eles como se fosse criança. “Cozinhava como ninguém para a gente e para os amigos, preparava mesas lindas, era quem decorava a casa para o Natal, numa verdadeira produção”. Devoto de Nossa Senhora da Saúde, para ela criava belos andores nas procissões, além de participar das festividades religiosas na igreja. “Ele tinha muita fé”, assegura Alexandra. 

Parceiros Clube A

Clique aqui para finalizar a ativação.

e sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os os para a recuperação de senha:

Faça a sua

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay