ABSTRAÇÃO GEOMÉTRICA

Exposição comemora o centenário do pintor Eduardo Sued

"Sued – 100 anos" reúne 25 obras do artista, que estão na Errol Flynn Galeria de Arte, onde ficarão expostas até 27 de junho

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O escultor e artista plástico Amilcar de Castro (1920-2002) era enfático: “Pintor é só o (Eduardo) Sued e o Lorenzato”. Coincidentemente, obras desses dois artistas estão, simultaneamente, em cartaz na capital mineira. As telas de Lorenzato, na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, do Palácio das Artes; e as de Eduardo Sued – são 25 obras, no total – chegam agora à Errol Flynn Galeria de Arte, onde ficarão expostas até 27 de junho.


“Sued – 100 anos” é a primeira ação comemorativa do centenário de um dos maiores nomes da abstração geométrica no Brasil – o artista carioca completará 100 anos no próximo dia 11. Distante dos dogmas concretistas, mas profundamente informado pelas lições do modernismo, ele praticou uma geometria viva, entrelaçando cor, forma e estrutura com rigor e certo lirismo.


Suas telas fragmentadas em planos geométricos justapostos dão a sensação de profundidade e o uso vibrante das cores criam ritmo e tensão. O resultado são composições assimétricas, com planos e formas que se deslocam, provocando movimento visual. É como se as obras de Sued fossem um mix de referências: assumem as cores vibrantes de Volpi (1896-1988), as estruturas geométricas de Mondrian (1872-1944) e o rigor construtivo de Ivan Serpa (1923-1973), mas com uma marca pessoal nítida.


“O Sued conheceu todos os grandes modernistas. Todos eram figurativos, mas, mesmo assim, ele se manteve fiel ao próprio estilo”, ressalta Errol Flynn Jr., curador da mostra e diretor da galeria. “Muitos artistas acabaram se rendendo às pinturas momentâneas, sendo mais figurativos em um momento e mais decorativos em outro. O Sued, não. Ele se manteve fiel a todo instante à sua trajetória”, acrescenta.

As telas de Sued trazem planos geométricos justapostos que dão a sensação de profundidade, com uso vibrante das cores

As telas de Sued trazem planos geométricos justapostos que dão a sensação de profundidade, com uso vibrante das cores

Catálogo da exposição/Reprodução


CONCRETISMO E NEOCONCRETISMO

Sued se formou em meio ao debate entre concretismo e neoconcretismo, mas seguiu caminho próprio. Na década de 1960, ou uma temporada entre Paris e Londres, fato que o possibilitou aproximar-se da tradição modernista europeia e conhecer o trabalho de Mondrian, Paul Klee (1879-1940) e dos construtivistas russos (Alexander Rodchenko, El Lissitzky, Lyubov Popova, entre outros). De volta ao Brasil, dedicou-se à pintura, mantendo a cor como elemento estrutural dentro do conjunto geométrico.

“A pintura do Sued dialoga constantemente com a história”, afirma o crítico de arte Marcus de Lontra Costa, que assina a expografia de “Sued – 100 anos”. “Ainda que as pinturas dele tenham arapucas modernistas, a grande verdade é que ela se estabelece num campo mais erudito de compreensão da pintura, como uma discussão real do modernismo do século 20”, destaca.


Sued nunca foi um artista de manifestos ou rupturas espetaculares, mas, sim, exemplo da fidelidade obstinada à pintura como campo de construção autônoma e poética. Por isso, é considerado por muitos críticos – entre eles, o próprio Marcus de Lontra Costa – um “pintor para pintores”.

“A obra dele é uma aula de pintura que interessa a qualquer pintor por causa das associações de cor que ele provoca e pelas informações que ele traz. Hoje, nesse mundo em que essas visões de arte são muito ecléticas e que não existe mais a imposição de uma única leitura, a pintura do Sued é a essência da ação artística, o que faz dele um pintor da essência pictórica”, analisa Marcus.


Ele ainda afirma que a obra do carioca estabelece diálogos com diversos mestres da pintura abstrata moderna. “Em muitas pinturas dele há esse deslocamento do olhar. A essência da pintura não está no centro, mas nas bordas, nas margens”, explica.

Além disso, continua Marcus, “Sued brinca tanto com a ideia de natureza morta, quanto com a noção morandiana, pela provocação da cor de matiz. Nesse sentido, o trabalho dele exige um conhecimento prévio. Claro que a pessoa que é sensível, que não conhece nada, pode olhar e se encantar com a cor e com os campos de cor. Mas, para entender profundamente o trabalho dele é necessária certa contextualização”, pondera o crítico.


Sued criou uma linguagem própria. Seu legado ensina que é possível herdar sem repetir o que foi feito. Se os concretos prezavam o cálculo e os neoconcretos a experiência, Sued soube unir ambos. Trabalhando longe dos holofotes, sempre fiel ao seu pensamento visual, mesmo às vésperas de completar 100 anos, ele deixa claro que sua carreira é símbolo de resistência artística e que é possível conciliar a subjetividade sem abandonar o rigor formal. Faz jus à Amilcar de Castro: “Pintor é só o Sued…”

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“SUED – 100 ANOS”
Exposição com obras de Eduardo Sued. Até 27 de junho, na Errol Flynn Galeria de Arte (Rua Curitiba, 1.862, Lourdes). De segunda a sexta-feira, das 10h às 18h; sábados, das 10h às 13h. Entrada franca. Informações: (31) 99889-1515.

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