CINEMA

Em "A procura de Martina", avó argentina busca no Brasil neto sequestrado 

No longa-metragem brasileiro que estreia nesta quinta-feira (5/6), uma Avó da Praça de Maio corre contra o tempo, ao receber diagnóstico de Alzheimer

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A argentina Martina sabe que o tempo está correndo contra ela. A notícia que espera, há décadas, chegou. Seu neto, Ignacio, pode estar no Rio de Janeiro. Contrariando tudo e todos, ela embarca sozinha para o Brasil. Chega com a esperança de encontrar o garoto, hoje um homem, que poderá lhe devolver um pouco da vida que lhe foi roubada.


Com estreia nesta quinta-feira (5/6), no UNA Cine Belas Artes, “A procura de Martina”, primeiro longa-metragem de Márcia Faria, conta uma história ficcional inspirada em relatos que há muito cercam o país vizinho. Coprodução Brasil/Uruguai, traz no papel-título a atriz argentina Mercedes Morán.


Um dos resultados da chamada “Guerra Suja” (1976-1983), período de ditadura militar na Argentina dominado pela violência indiscriminada, foi o desaparecimento de bebês. Mulheres grávidas torturadas e mortas pelo regime tiveram seus filhos sequestrados – muitas vezes, adotados pelos próprios assassinos. A organização de direitos humanos Avós da Praça de Maio (Abuelas de Plaza de Mayo) busca reaver, desde 1977, essas pessoas.


Martina, a personagem de Mercedes Morán, é uma das integrantes do grupo. A questão é que os sintomas do Alzheimer estão se intensificando. Por vezes, ela não se lembra onde está. Suas melhores amigas, Norma (Adriana Aizemberg) e Rosa (Cristina Banegas), tentam impedi-la, sem sucesso, de embarcar. No Rio, Martina vai se envolver com outras duas mulheres: Jéssica (Luciana Paes) e Hilda (Carla Ribas).


Suspeita

“Não existem relatos reais de netos encontrados no Brasil. Mas existe uma suspeita, as avós inclusive já estiveram aqui, na embaixada argentina”, comenta Márcia Faria. Filha do produtor Rivanides Faria, sobrinha do diretor Roberto Farias e do ator Reginaldo Faria, no cinema ela fez assistência de direção para Hector Babenco (“Carandiru”) e Walter Salles (“Abril despedaçado” e “Diários de motocicleta”, quando conheceu Mercedes Morán).


Dirigiu várias séries e, para estrear na direção de longas, tirou um ano sabático. Em busca de um tema, se deparou com um livro sobre o Clamor (1978-1991), grupo de voluntários de São Paulo que ajudou refugiados políticos da Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia. “Um dos capítulos tratava do sequestro de crianças. Isso me tocou profundamente e comecei a pensar numa história em que você tem a sua vida roubada”, comenta Márcia.


Convidou a roteirista Gabriela Amaral Almeida para se juntar a ela na escrita. “Foi ela quem trouxe a ideia do Alzheimer. Pouco depois, a minha mãe começou a enfrentar a doença. É claro que, a partir desse momento, o filme tomou um lugar muito pessoal para mim. Nasci em 7 de setembro de 1968, quase no meio de uma parada militar. Uma parte da minha vida foi sob a ditadura. Eu queria falar sobre isso, mas o filme foi tomando seu próprio caminho, e a história mudando um pouco”, comenta a diretora.


Mercedes Morán afirma ter achado muito original a maneira como a repressão em seu país foi tratada. “Sou contemporânea da ditadura militar. Quando ficamos sabendo de mulheres em cativeiro cujos bebês foram apropriados pelos próprios sequestradores, pensamos que aquilo era uma tragédia de Shakespeare”, diz.


Verdade e justiça

“Como seria, no futuro, quando essas crianças entendessem o que aconteceu? Não podíamos imaginar, naquele momento, que surgiriam movimentos como as Mães e Avós de Maio, que levariam essa busca a cabo de uma maneira absolutamente pacífica, sem espírito de vingança, apenas procurando a verdade e a justiça”, acrescenta a atriz.


Mercedes comenta que o elo formado entre o elenco argentino e o brasileiro foi muito semelhante ao da própria história do filme. “Ou seja, uma rede de mulheres que se ajudam”. Para Márcia, a protagonista foi fundamental. “Ela trouxe muita profundidade para um personagem difícil. Mercedes construiu cada detalhe nas filmagens.”


Para a atriz argentina, o lançamento de “A procura de Martina” agora é muito simbólico. “Neste momento, tentam impor no meu país um negacionismo brutal em torno do Julgamento das Juntas (processo judicial dos militares que governaram a Argentina durante a ditadura). Além de suas próprias virtudes, me sinto feliz de ter participado de uma produção majoritariamente brasileira em um momento que o cinema brasileiro está revisitando esse ado.”


Carla Ribas concorda com Mercedes. “Acho muito importante que filmes como ‘Ainda estou aqui’ (de Walter Salles, do qual ela também participou), ‘A procura de Martina’ e [o inédito] ‘O agente secreto’ [de Kleber Mendonça Filho] estejam falando com olhares diferentes sobre coisas que nos foram escondidas. Em ‘Martina’, uma diretora e um elenco totalmente feminino, de culturas, idades e escolas de interpretação diversas, se encontraram para contar uma mesma história. Esse é o momento.”


“A PROCURA DE MARTINA”
(Brasil/Uruguai, 2024, 87min.) Direção: Márcia Faria. Com Mercedes Morán, Adriana Aizenberg, Carla Ribas e Luciana Paes. O filme estreia nesta quinta-feira (5/6), no UNA Cine Belas Artes (Sala 3, 18h).

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